A existência dos jogos de tabuleiro é mais antiga do que se pensava. Através de escavações arqueológicas que datam por volta de 4000 anos antes da era comum, percebe-se que esse tipo de jogo existe desde o início das civilizações. Com esse fato, a possibilidade de existirem outros jogos ainda mais antigos e que não foram descobertos é gigantesca, ou quem sabe, seus registros podem ter sido confundidos com outras atividades rotineiras. Já imaginou se as pinturas nas cavernas não representarem a caça ou a luta, e sim as regras para algum estilo de jogo antigo de procura ou pega-pega?
Por meio das histórias do Senet, Real de Ur e Mancala, os jogos mais antigos já registrados e comentados aqui na Gamegesis, podemos perceber uma certa familiaridade entre esses jogos que existiam em regiões diferentes do planeta. A crença da vida após a morte e da passagem para eternidade são aspectos comuns que estão presentes tanto no Senet, quanto no Real de Ur. O fato de determinadas jogadas ou casas preenchidas definirem o futuro do jogador e a sua sorte na vida real, só demonstram como os jogos ultrapassaram a barreira do lazer e se tornaram algo quase que essencial. Por isso, vários achados arqueológicos estão juntos de tumbas de importantes reis, pois era necessário que aqueles jogos fossem levados com os mortos para a eternidade. Além de terem influência na vida espiritual, muitos deles também refletiam aspectos da cultura da época, como no caso do Mancala. Sua etimologia, que significa literalmente “mover”, punha em pauta práticas de raciocínio e semeadura que sempre estiveram presentes no dia a dia dos povos que os jogavam.
Apesar de toda importância histórica e contribuição desses jogos para a existência dos atuais, o estudo formal desse campo ainda é bem recente. O campo de game studies ganhou corpo acadêmico apenas após os anos 2000, o que, comparado com outras áreas, como Física e Química, seria ainda apenas um “bebê de colo”.
O projeto Gamegesis iniciou-se em 2001, ganhando corpo em 2013 e sendo formalizado pela academia em 2018. Seu intuito é atuar em pesquisas e consultorias na área de Game Studies e Design de Jogos, além de oferecer ferramentas de comparação entre jogos, levantando características e permitindo com facilidade identificar e interpretar os mecanismos e jogabilidades de cada jogo, contribuindo para com a sociedade. Mesmo com regras não definidas e informações adquiridas através de estudos e achados arqueológicos, seu objetivo é ajudar a analisar como um jogo funciona, seu conceito, regras, fenômenos e situações, ferramentas essas que foram utilizadas para analisar os jogos de tabuleiro mais antigos já registrados, descritos nos artigos publicados anteriormente. Através de suas ferramentas, compreender e comparar jogos como Senet e Real de Ur, por exemplo, se tornou mais fácil.
Por meio da Função Gamegesis, uma ferramenta que permite quantificação de modo difuso e empírico, é possível identificar e quantificar elementos e os papéis nos quais eles atuam no jogo. Logo, a proposta do projeto é auxiliar, ainda, em análises que vão bem além da mecânica de um jogo, como aspectos sociais, antropológicos, históricos e psicológicos. A Gamegesis auxilia inclusive designers e desenvolvedores de jogos que estão se inserindo no mercado gamer, bem como educadores ou até mesmo pesquisadores no contexto de jogos. Assim, ajuda a desenvolver estudos de jogos de uma forma convergente e ainda a disseminar os conceitos de ludoliteralidade, trabalhando para servir à comunidade de entusiastas, pesquisadores, produtores, educadores e interessados nesse assunto.