Enigmas, mistério e fuga: o que são as Escape Rooms

Enigmas, mistério e fuga: o que são as Escape Rooms

Do Japão para o mundo, como é esse curioso estilo de jogo de enigmas?

Escape Room conquistaram o mundo, com milhares de salas e jogadores nas grandes cidades | Fonte: IA

Em 2007, os jogos em flash com o objetivo em comum de escapar de uma sala e ambientado em diversos temas estava no auge da  popularidade por toda a Internet. Eles cresceram usando como mote a resolução de diversos enigmas ligados um ao outro, sejam de lógica, matemática, conhecimentos gerais, linguagem ou qualquer outro estilo de quebra-cabeça. Vendo a explosão desses jogos baseados nos clássicos adventures dos anos 90, a empresa japonesa SCRAP criou a primeira sala física, onde o objetivo, a maneira e os elementos do cenário definiriam as Escape Rooms.

Antes da criação da SCRAP, alguns modelos de escape room já haviam sido testados em eventos como a GenCon, considerada a mais importante conferência de jogos de tabuleiros, RPGs e jogos de cartas como Magic. Outros tipos de entretenimento, como as casas mal assombradas, os labirintos e modelos de parques de diversões possuíam elementos que iriam inspirar o modelo das escape rooms, que também adotaram diversos temas da cultura pop, como filmes tipo Indiana Jones e Jogos Mortais. 

A Hungria foi o primeiro país que importou as salas, com o pioneirismo da Parapark | Fonte: IA

A partir do surgimento da primeira sala, o modelo continuou restrito ao Japão e depois às grandes cidades da Ásia por alguns anos, até que, em 2011, ele foi levado para Budapeste, capital da Hungria. Ali, as salas foram desenhadas com inspiração no principal trabalho do conterrâneo teórico da psicologia Mihaly Csikszentmihalyi, o conceito de flow ou fluxo, bastante pertinente para o game design e o game studies, onde o sujeito se sente completamente imerso, mentalmente e fisicamente, ao realizar uma atividade. Assim, as salas começaram a fazer bastante sucesso entre o público, o que levou as escape rooms para outros países da Europa, espalhando-se em diversas cidades e estabelecendo uma forte base para a maior popularização desses jogos ao redor do mundo.

Na América do Norte, uma pessoa próxima do fundador da SCRAP foi quem levou o modelo para a cidade de  São Francisco, rapidamente disseminando a atividade nos Estados Unidos e Canadá, por meio de empresas, que criaram redes de salas pelas principais cidades do continente. Isso ajudou a levar as escape rooms para o resto do mundo, como a América do Sul e os países da Commonwealth britânica, como Índia e África do Sul. Com a popularização massiva das salas, com mais de cinquenta mil estabelecimentos por todo o mundo, diversos temas e puzzles complexos foram desenvolvidos, mostrando o potencial desse novo estilo de jogo para diversos públicos, gostos e dinâmicas, inclusive para além do entretenimento, com o uso educacional e corporativo.

Mas como funcionam as escape rooms?

Escape Rooms trabalham o pensamento lógico e o trabalho em equipe | Fonte: IA

As salas possuem diferenças grandes entre si, desde o tema, até decisões do design das salas, enigmas, escolhas de dicas e ajudas externas, mas todas têm alguns fatores em comum. O uso de conhecimentos de múltiplas áreas para a resolução dos problemas, os enigmas estarem interligados para a solução do enigma final, que fecha todas as questões e liberta os participantes, e a mecânica de trabalho em equipe são as bases essenciais das escape rooms ao redor do mundo.

Por mais que o nome possa sugerir,  nem todas as escape rooms possuem a  temática de fuga de algum lugar, como uma prisão, masmorra ou catacumba. Elas podem variar, desde a investigação de um assassinato, a cura de uma doença misteriosa ou até algum tema envolvido com as disciplinas escolares, como por exemplo história, que tem como objetivo o aprendizado lúdico por meio do jogo. Montadas por escolas, essas escape rooms assumem um fim, também, educacional. No entanto, a maior parte das escape rooms são de fato uma série de quebra cabeças produzidos para escapar de uma sala.

As temáticas e o modo pelo qual elas afetam o estilo do jogo a partir das narrativas variam bastante, sendo desde um pano de fundo simples, uma base para quais puzzles estão na sala ou até parte essencial para a resolução dos enigmas, com uma pequena quantidade de salas que não possuem nenhum tema específico além da fuga. Os períodos reais ou ficcionais também variam muito de sala em sala: existe desde  uma ambientação atual, até as que retratam um período histórico ou alguma ficção fantástica.

As salas podem ter temas específicos relacionados a trama, como a resolução de um assassinato | Fonte: IA

O estilo dos puzzles são também muito variados, mas geralmente se relacionam com o tema e a narrativa da sala, indo desde a procura de objetos ocultos que possuem a chave de caixas trancadas; até  a observação de objetos e o pensar “fora da caixa”, olhando de outro ângulo para resolver o problema apresentado; outros dependem de decifrar símbolos a partir da decodificação de uma frase ou da resolução de questões lógico-matemáticas com contas; ou mesmo a adivinhação de conhecimentos sobre a história do mundo, entre outros fatores.

Esses puzzles podem seguir um caminho único e linear, onde esse caminho segue uma série fixa de enigmas; ou múltiplos puzzles sem ordem estabelecida, em que todos estão interligados ao final; e o modelo de uma série de caminhos livres, que fazem um caminho específico até o final. Existe o modelo que mistura os três tipos de caminhos, chamado de modelo pirâmide, por começar por um modelo livre, encaixar em um dos caminhos definidos e, a partir dos caminhos percorridos, definir um único caminho fixo até o final.

Quais são os usos da Escape Rooms?

O uso corporativo vai do treinamento de equipes aos processos seletivos de contratação | Fonte: IA

Além do entretenimento que proporcionam, pela  necessidade da resolução dos problemas em grupo com a utilização da lógica e de múltiplos setores do conhecimento, esse modelo se mostrou útil em diversas atividades. Essas atividades apresentam práticas que consistem desde o aprendizado de disciplinas escolares para estudantes de ensino fundamental e médio, de maneira a apresentá-los a uma prática lúdica para estimular a curiosidade e ajudar a fixar o conhecimento adquirido; passando pelo ensino e estímulo de matrícula em cursos universitários diversos, como algumas universidades estadunidenses usando os conhecimentos de enfermaria nas escape rooms para estimular a matrícula nas disciplinas de enfermagem; até mesmo na seleção de funcionários em processos seletivos, definindo qual se adapta melhor ao trabalho em grupo e aos ideais da empresa e ao uso corporativo para aprimorar a dinâmica do trabalho em equipe dos funcionários.

Esse uso das escape rooms por empresas, pode ser  dividido em alguns aspectos: o de aprimoramento da equipe, com  uso das ferramentas de pensar criativamente ou “fora da caixa”, o que exige aliar múltiplas capacidades de conhecimentos dos membros e do trabalho em equipe, onde a comunicação, a conexão e a administração do grupo torna a experiência um aprendizado e uma melhoria para todo o ambiente da empresa. A segunda situação é o uso das escape rooms para a seleção dos candidatos a uma vaga na empresa, realizando uma “simulação” do ambiente e dos problemas que ele terá que resolver e, a partir do trabalho em equipe, estabelecer quais candidatos estão mais aptos a serem contratados. Outro aspecto que pode ser considerado é o uso de escape rooms para a divulgação de eventos de lançamentos de produtos, assim criando uma ambientação interativa para o público sobre o seu produto, promovendo engajamento e expectativa pela propaganda.

As escape rooms podem ser utilizados para o ensino em diversos níveis educacionais | Fonte: IA

Já no ambiente educacional e pedagógico, o leque se abre ainda mais, com as possibilidades variando desde estudantes do ensino fundamental, médio e superior, ao uso em pesquisas sobre o comportamento em relação a novas formas de ensino e ao estímulo e divulgação de cursos e graduações. No ensino dirigido, inserido dentro de uma matéria ou disciplina, o uso da gamificação  já é um método popular , mas o uso das escape rooms enriquece a experiência dos estudantes.  Um exemplo é o caso de um estudo realizado numa escola goiana, onde os conhecimentos de química, inglês e matemática foram utilizados em uma escape room imersiva, com a narrativa diretamente ligada aos enigmas e ao andamento do jogo. Entre outros usos pedagógicos, há o exemplo do estímulo à curiosidade e ao interesse em uma nova possibilidade de curso na faculdade, feito no modelo estadunidense de “major” ou uma “formação principal”, no caso o estímulo ao interesse no curso de Enfermagem.

Algumas escolas, para abrigar grupos grandes que não conseguiriam ser atendidos nas escape rooms padrão e para realizar o objetivo final de maneira mais econômica, prática e portátil, as salas foram adaptadas para o modelo “em miniatura” das escape rooms, conhecidas como lock boxes ou escape boxes, nas quais o objetivo de resolver os enigmas que normalmente estariam presentes em uma sala inteira estão presentes apenas naquela caixa, aumentando a capacidade de um grupo e a possibilidade de vários grupos em uma mesma sala.

Como é o panorama das Escape Rooms hoje?

Até 2019, as Escape Rooms cresciam constantemente em vários cantos do mundo, com mais e mais empresas abrindo novas salas e evoluindo os paradigmas do que poderia ser feito, desde novos enigmas, temáticas mais imersivas, até a diversificação dos temas. A popularização dessas salas continuava a crescer e o público fiel continuava a ir e esperar novidades nessas salas.

Já em 2020, com a Covid-19 se espalhando para todos os cantos do globo, com a declaração de pandemia pela Organização Mundial da Saúde e com os países fechando o comércio não essencial, as salas de Escape Room sofreram um forte impacto, tendo que fechar por meses até a situação se estabilizar de maneira lenta e reabrirem com novas medidas de segurança para a proteção entre os membros da equipe e os jogadores.

Foi justamente nesse contexto que as Escape Boxes ou Lock Boxes se popularizaram para o público geral. Nesse modelo, cada jogador receberia em sua casa uma caixa,  com o desafio de uma escape room padrão reduzido  aos segredos e enigmas presentes na caixa, assim criando uma forma de jogo híbrida entre o digital e o físico, com o grupo participando das decisões de maneira segura.

Para entender em qual profundidade a pandemia afetou fortemente esse mercado de jogos, obrigando-o a pensar nas mais variadas e complicadas adaptações, acompanhe nosso portal para não perder a próxima parte da série sobre as Escape Rooms.

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