Também conhecido como Jogo dos Vinte Quadrados, o Real de Ur é mais um dentre os jogos de tabuleiro mais antigos da humanidade. Estudos apontam que ele foi jogado inicialmente na Mesopotâmia, por volta de 3000 A.E.C., e se popularizou por todo o Oriente Médio, sendo encontrados vestígios no Irã, Egito, Síria, Sri Lanka, Creta, Chipre e Líbano.
Popular em toda a região, o Real de Ur abrangia todos os estratos sociais. O jogo tem esse nome porque foi descoberto durante escavações no Cemitério Real de Ur, entre 1922 e 1934, pelo arqueólogo Sir Leonard Woolley. Em suas escavações, Woolley encontrou cinco placas do jogo, duas dessas viraram destaque do seu livro The First Phases.
Além da mecânica, das regras, e da datação do Real de Ur ser semelhante ao Senet, ele também, com o tempo, ganhou um significado místico. Por volta de 1980, Irving Finkel, um curador do Museu Britânico, traduziu uma tábua de argila escrita pelo escriba babilônico Itti-Marduk-balāingu em 177 A.E.C.. Ela descreve como o jogo era jogado naquele período, com base em algumas regras de outro escriba chamado Iddin-Bēl. Todavia, essa tábua é de uma época bem distante de quando o jogo começou a ser jogado, logo, as regras não são bem definidas e possuem variações.
Além de algumas regras, a tábua de Itti-Marduk-balāṭu fornece também algumas previsões vagas para o futuro dos jogadores, caso parassem em certos espaços. Logo, no auge do Real de Ur, muitos supersticiosos o jogavam buscando ter alguma ideia do que os aguardava no futuro. A placa possui alguns sinais cuneiformes dentro de losangos, que associam as possíveis previsões com os signos do zodíaco. Em tradução literal, seria algo do tipo:
Peixes: Aquele que se senta em uma taverna;
Áries: Beba uma cuba de cerveja;
Touro: Vou despejar a escória por você;
Gêmeos: Você vai encontrar um amigo;
Câncer: Você estará em lugares elevados;
Leão: Você será poderoso como um leão;
Virgem: Você vai subir o caminho;
Libra: Como quem pesa prata;
Escorpião: Você vai tirar uma boa cerveja;
Sagitário: Você vai cruzar a vala;
Capricórnio: Como quem possui um rebanho;
Aquário: Você vai cortar carne.
Com o tempo, as pessoas começaram a ver relações entre o sucesso de um jogador com o sucesso na vida real, e eventos aparentemente aleatórios, como parar em determinada casa, passaram a ser interpretados como mensagens de divindades ou até mesmo de fantasmas dos ancestrais falecidos.
Assim como o Senet, Gamão ou até o conhecido Ludo, o objetivo do Real de Ur é retirar todas as peças do tabuleiro. Para isso, inicialmente, cada jogador recebe sete peças: um joga com as cores brancas e outro, com as cores pretas. Todas as peças possuem um lado totalmente liso e outro lado marcado com sinais circulares.O tabuleiro é composto por dois conjuntos retangulares de caixas, um contendo três fileiras de quatro quadrados cada e o outro contendo três fileiras de duas caixas cada, unidas por uma “ponte” de duas caixas.
A jogabilidade é determinada lançando um conjunto de dados em forma de tetraedro de quatro lados. Dois dos quatro cantos de cada dado são marcados e os outros dois não. Quando eles são lançados, deve-se contar o número de cantos marcados que estão para cima, o total é o número de casas que se deve andar.
Algumas versões de tabuleiro variam, mas duas características sempre estão presentes. A primeira, é de que os tabuleiros possuem lados idênticos, um para cada jogador, e a segunda é a presença de cinco casas com uma roseta, incluindo uma no meio do tabuleiro. Quando uma peça está em uma das casas do próprio jogador, ela está segura de ser capturada, mas, quando está em uma das oito casas no meio do tabuleiro, as peças do oponente podem capturá-la, caso caia no mesmo espaço, enviando a peça de volta para fora do tabuleiro para que ela reinicie o curso desde o início. Nunca pode haver mais de uma peça em uma única casa. Quando um jogador lança um número usando os dados, ele pode escolher mover qualquer uma de suas peças no tabuleiro ou adicionar uma nova peça, se ainda houver alguma que não entrou no jogo. O participante não é obrigado a capturar uma peça sempre que tiver a oportunidade. No entanto, todos são obrigados a mover uma peça sempre que possível, mesmo que isso resulte em algo desfavorável. Quando um jogador estiver na casa da roseta, que também pode ser representada por um ‘X’, ele não pode ser capturado e pode jogar os dados mais uma vez.
A direção em que os jogadores podem mover suas peças varia muito. Na versão mais clássica, as peças pretas caminham na parte superior e as brancas na parte inferior do tabuleiro, cruzando o caminho apenas na “ponte”, sendo essas as casas de ataque.
Todavia, alguns estudiosos, como James Masters, acharam o formato meio inconsistente, e surgiram então outras possibilidades de direção no tabuleiro.
Nesta última versão criada por HJR Murray, os jogadores retornam com as peças para a casa de início e as peças são viradas ao contrário. O que justificaria um lado ser liso e outro estampado, semelhante ao Xadrez, quando o peão consegue se tornar rainha.
Apesar das superstições a respeito de algumas casas e até mesmo estampas que podem variar, nenhuma outra casa além das rosetas possui um significado especial ou altera algo na jogabilidade.
O fim do Real de Ur no final da Antiguidade não é muito bem explicado. Algumas teorias sugerem que ele foi evoluído para o que conhecemos hoje como Gamão, enquanto outros dizem que o Gamão acabou fazendo mais sucesso, levando o Real de Ur a cair no esquecimento. Sua última aparição foi na cidade indiana de Kochi, levado por mercadores judeus na emigração para Israel em 1950, após a Segunda Guerra Mundial. A diferença é que nessa versão, chamada pelos judeus de Aasha, cada jogador dispunha de 12 peças, que automaticamente eram colocadas de maneira diferente no tabuleiro. Assim como o Senet, hoje existem tabuleiros sendo comercializados no mercado de games, e é possível jogar uma versão online de Real de Ur aqui.
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[…] Senet e Real de UR, jogos anteriormente apresentados, possuem uma mecânica similar de vitória e de movimentação, e […]
[…] arqueológicas tenham encontrado jogos de tabuleiro datados de 6 a 7 mil anos atrás, como o “Jogo Real de Ur”, na Mesopotâmia, estimado por volta do ano 3000 Antes da Era Comum (AEC) e o “Senet”, no […]
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