O que há por trás dos jogos retro estilizados?

O que há por trás dos jogos retro estilizados?

Nos últimos anos jogos emulando estilos visuais de jogos eletrônicos clássicos vem recebendo uma alta atenção da comunidade de jogadores, mas por quê?

Shovel Knight descansa com seu ouro e conquistas. Fonte: sanook

Jogos eletrônicos atualmente, devido ao avanço tecnológico, podem se dar ao luxo de serem cada vez mais complexos. Com sua alta popularidade nos dias de hoje, a indústria dos videojogos vem se tornando uma área altamente competitiva, na qual os grandes estúdios competem pelo coração, interesse e dinheiro do público. Nessa competição de desenvolvimento os gráficos cada vez mais realistas, novos formatos de gameplay e inserção de elementos modernos, como micro transação, são questões focadas pelos grandes títulos publicados pelas empresas dominadoras líderes do mercado, como a EA Games e Activision.

E do outro lado ? O que as pequenas, médias e  produções independentes vem fazendo? Fugindo das ideias ultra realistas que a indústria dos jogos vem tomando nos últimos 12 anos o lado independente da comunidade dos videojogos vem reassumindo construções, ideias e estilos dos jogos antigos, olhando para jogos nos anos 70, 80 e 90 e usando dessas eras de inspiração, assim, trazendo para os dias modernos uma ressurreição de ideias retros. 

Mas esse olhar para trás não se categoriza como uma simples cópia das produções antigas como uma nova roupagem. O movimento se caracteriza pela sua complexidade, ditando desde questões como nostalgia a alta demanda do mercado dos jogos. Nesse artigo buscamos estudar essa natureza complexa e apontar alguns pontos que possam servir de explicação para a atual popularidade dos jogos nesse formato.  

Novo jogo velho?

Link se defende de flechas atiradas por inimigos. Fonte: atesgroup

O primeiro ponto que temos que entender é se jogos retro estilizados são equivalentes aos jogos que os influenciam, isto é, definir qual o valor de um jogo que usa do estilo de jogos antigos no ambiente moderno.

Em 1986 a Nintendo lança uma das obras mais importantes para os jogos do gênero de aventura: The Legend Of Zelda. Esse jogo de exploração com gráficos em formato isométrico, isto é, visto de cima para baixo, trazia mecânicas de interação novas, saindo do perfil dos jogos plataformas e focando na exploração do mapa, com calabouços prontos para serem explorados e conquistados pelo jogador. 

Zelda é recepcionado de forma incrível, recebendo altos elogios dos críticos, atingindo um sucesso comercial enorme. A partir disso muitos jogos  começam a usar o formato desse icônico jogo para desenvolver seus jogos, elevando cada vez mais o formato do jogo de aventura. Mas na chegada dos anos 2000 o jogo de exploração e aventura com gráficos isométricos 2D já não tinha mais tanta força, com muitos desenvolvedores preferindo assumir o formato do 3D para criação de aventuras mais imersivas.

O jogador enfrenta um coelho em uma floresta. Fonte: anodyne game

Essa queda no interesse desse formato de jogos viria a prevalecer até os anos de 2010 onde os jogos retro estilizados/influenciados começam a tomar destaque na comunidade de jogadores. É a partir desse ambiente que jogos como Minit, Titan Souls e Anodyne começam a surgir e se popularizar criando ideias como os Zelda likes ou Zelda clones, ou seja, jogos semelhantes aos Zeldas retrôs. 

Esse fenômeno também acontece com vários outros jogos nesse período criando categorias denominadas como os roguelites e  roguelikes. Mas algo fica claro nesse período, mesmo que esses jogos sejam grandemente influenciados por produções anteriores, eles são suas próprias criações, muitas vezes modernizando o formato dos jogos anteriores e colocando variações únicas no formato dos jogos clássicos, assim não sendo um simples novo jogo velho, mas sim uma experiência única a aquela produção. 

Um estilo tão anos 80

O jogador enfrenta demônios em Amid Evil, jogo inspirado por Doom 1. Fonte: Arkade

Quando se entende então que essas obras funcionam independente dos seus precursores levanta-se o questionamento, porque estilizar essas no formato de jogos retrôs? 

Quando se pensa em jogos retro estilizados pode-se imaginar algo como os jogos do nintendinho com definições gráficas um pouco mais polidas. Porém a indústria dos jogos está em constante evolução e isso não acontece só na ponta econômica e de jogabilidade, a tecnologia e habilidade na criação de gráficos evoluiu grandemente, seja na criação de objetos em 3D a arte de animar sprites em 2D. 

Essa evolução se traduz perfeitamente na hora de criar jogos retro estilizados, já que as ferramentas se desenvolveram e melhoraram muito além das limitações da época permitindo então a criação de formas mais complexas mesmo replicando artes em 32 bits ou gráficos de baixa contagem poligonal como do PS1 e gamecube.

O jogador analisa uma placa no parque, cena inicial do jogo Siren Head. Fonte: Pyre

O jogador explora o mapa em The Messenger, jogo altamente inspirado por Ninja Gaiden. Fonte: Steam

Essa facilidade na replicação sem perda de qualidade se encaixa perfeitamente em jogos que necessitam dessa conexão estética às eras antigas, sejam jogos de terror replicando o sentimento de desconforto de jogos do PS1, como Siren Head, ou jogos que referenciam e expandem as mecânicas e estilo de jogos antigos, como The Messenger e Undertale. 

Outro fator que influencia grandemente na escolha de estilizar  os jogos com visual retrô é o fator econômico e temporal. Produzir um jogo não é fácil nem rápido, ao contrário, é um processo exaustivo e caro, seja em grandes empresas ou em produções independentes a criação de um jogo vai ser complexa. Então, quando o acesso a ferramentas e tecnologias fica atrás de valores altos para produtores independentes, muitos se viram para as formas utilizadas anteriormente.

Quando observamos os valores de produção de jogos AAA, estes são os produzidos pelas líderes de mercado, comparando-os com a dos jogos independentes, a diferença no preço de produção fica clara. Um jogo como Call of Duty custa em média 200 milhões de dólares já um um jogo independente como Enter The Gungeon custa em média 300 mil dólares. Então, ao se considerar o que é mais viável para estudos médios, pequenos e grupos independentes fica claro que assumir um perfil mais retrô estilizado influência no custo do jogo, mas é claro que não é a única força determinante. 

Amor, nostalgia e jogos

Sonic atravessa o deserto em Sonic Mania. Fonte: Pc Invasion

Um ponto a se clarificar dentro da conexão dos jogos retrô modernos é a relação desses com o amor aos jogos, muitas das produções que se encaixam na categoria retro estilizadas não são simples criações de jogos eletrônicos para o mercado e sim odes para a história dos jogos, homenagens feitas para obras que muitas vezes influenciaram e criaram os gostos dos produtores. 

Sonic Mania é um retorno à fórmula dos jogos 2D de Sonic, lançado em 2017. Depois de múltiplos anos tendo falhas no espaço 3D a Sega contrata um pequeno estúdio independente para fazerem o retorno do ouriço azul para o espaço bi dimensional. O projeto então é feito por uma equipe de fãs dos jogos clássicos que faziam mods de Sonic 2 e 3, esse grupo coloca então no jogo eletrônico essa paixão que carregavam pelo formato clássico dos jogos. Sonic Mania é lançado para aclamação dos críticos e fãs que amaram o retorno à fórmula 2D, o estilo retrô do jogo usando sprites e pelo claro invocativo de nostalgia na jogabilidade. 

Essa é uma das maiores forças dos jogos dessas categorias o poder de reacender memórias e paixões. Jogos como undertale são claramente obras feitas a partir de um respeito e sentimento de nostalgia para com seus antecessores, afinal, no fim, o sentimento de nostalgia junto a descoberta do novo que esses jogos trazem, criam aos jogadores experiências únicas, que só podem ser feitas por jogos retrô estilizados.

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